segunda-feira, 14 de julho de 2008

Janaína Félix

Hoje ao acordar com o som do despertador, fui logo abrir a janela, para olhar o belo dia que se anunciava. Uma fina neblina subia lentamente enquanto o sol deslizava seus raios pelo panorama que ia se descortinando pela janela de meu quarto, iluminando tudo ao redor. A sensação de paz me tomava toda. O canto dos pássaros me acalmava, preparando-me para um novo dia. Só assim, percebo o quanto meu bairro é agradável, suas montanhas verdejantes, seus pássaros que cantam a cada novo amanhecer. Ponunduva é tranqüilidade e com certeza sou grata a essa natureza. Mas... Infelizmente nem tudo é perfeito! Apesar de ser um bairro belo, não tem acessibilidade alguma e nem comodidade do conforto urbano. Bom, mais isto agora não vem ao caso.
Depois deste ritual decidi ver mamãe, e ao sair do quarto, indo à direção da cozinha, encontro minha mãe conversando com minha tia Sofia, estavam conversando sobre uma sobrinha de minha tia que eu nunca ouvira falar, diziam que ela tinha quinze anos e que acabara de chegar da cidade vizinha, era filha da irmã de titia que nunca vinha lhe ver (mas, ao menos mandou sua filha). Ela então nos convidou para ver sua sobrinha. Enquanto eu pensava consigo: Como ela deve ser? Que jeito ela seria? Alta, baixa, legal, inteligente...
Fomos rapidamente e muito ansiosas para conhecer a garota, pois para nós era festa quando alguém de fora vinha para cá. Chegando lá ao abrir a porta da sala, deparo-me com uma menina sentada no sofá totalmente diferente de qualquer pessoa que já tinha visto antes. Seu cabelo era cor de fogo, sua roupa descolada com detalhes estranhos. Calçava um tênis, ALL STAR pelo menos essa marca eu conhecia. Depois reparei em mim mesma. Encontrava-me com uma roupa que lembrava mais um pijama. Calçava um chinelo nos pés que parecia uma tábua de passar. Depois dessa visão inicial, confesso que não era nada do que imaginava, mas não tinha perdido as esperanças e parti logo ao comprimento:
- Bom dia! Tudo bem?
- Oi!

- Meu nome é Maria das Graças.

- Outra Maria já era de se imaginar. Hei! Será que só tem Marias neste bairro?

- É até que há bastante.

- Hei, vem cá! O que tem para fazer aqui? Estou entediada desde quando cheguei aqui. Por acaso aqui não tem internet?

- Não, não tem!

- Então o que é que vocês fazem por aqui?

- Há... Eu de manhã vou à escola, quando chego ajudo na limpeza de casa. E à tarde molho a horta.

- Que legal, um bando de jecas! O que vou ficar fazendo aqui no período de duas semanas onde Judas perdeu as botas? E olha... Estou até pensando em devolver de volta a ele.

Depois dessa ironia da menina, pensei – “Nossa! O que ela pensa? Será que só sabe nos criticar, por que ela não fala do lugar onde mora, da pobreza das pessoas que passam fome, sede, frio que ficam ressonando nas calçadas e vielas da cidade”. Isso ela não incluiu em sua fala.

- Mas, pelo o que vi você fala de uma maneira como se odiasse. Por que primeiro não tenta ver o que tem de bom aqui?

- Se ao menos tivesse algo de bom aqui. Mas, vou conhecer o quê? Apenas mato, tenho certeza!

- É, mas se fosse para sua cidade ia apenas conhecer o ar poluído.

- Claro que não. Você está enganada, onde moro é um mundo muito mais legal.

- Mais legal! O que quer dizer com isso? Que estar em contato com a natureza não é bom?

- Há sei lá...

- Olha, agora percebi que você não faz idéia do que é a vida no campo, e sinceramente, tem lá suas boas coisas.

- Igualmente, lá também tem suas qualidades.

- É, sei. Mas, quais são?

- A tecnologia, modernização, comércio, entre outros.

- Aqui temos matéria prima, ar puro, vegetação e lindas paisagens.

- Acho que lhe devo desculpas!

- Não, o que é isto! Também me desculpe.

- É, você até que é uma menina legal.

- Você também.



Sem mais nem menos entra mamãe que me chama para ir embora, pois estava ficando tarde e precisava preparar o almoço de papai, que sempre chegava faminto. Chamei-a para ir em minha casa para que continuássemos conversando, confesso que no começo pensei que era chata, mas no final de tudo percebi que o fato era, que eu não a conhecia e nem ao seu mundo e ela também não conhecia o meu. No final daquela tarde até a noitinha trocamos ideias sobre o lugar onde morávamos, assim conheci o dela e ela o meu.
Pena que depois daquelas semanas juntas nunca mais a vi... Mas guardo em minha memória suas lembranças, hoje já deve estar com filhos e netos, mas nunca irei me esquecer daqueles velhos momentos de converças e até mesmo de grandes conhecimentos adquiridos. Boas lembranças, bons tempos aqueles de minha juventude.


Janaina Félix

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